Todos os filósofos (nos) parecem sempre sábios, embora, por mais que eles saibam, ignorem ainda muito – e talvez seja só mesmo o reconhecimento da própria ignorância que os torna, verdadeiramente, sábios (“Só sei que nada sei”, Sócrates).
Todos os sábios, se não o são, na nossa fantasia, deveriam ser sempre velhos – e assim porque talvez, mesmo com todo o apego que mantemos, com a força com que nos agarramos à vida, queiramos debitar na conta da (nossa) juventude a falta de sabedoria, na crença de que, com o tempo, ela acabará vindo: e esse raciocínio tanto pode ser uma demonstração de sabedoria, ainda que jovens, quanto de ignorância, mesmo que já velhos.
Todos nós, apesar de nem sempre termos consciência disso, filosofamos, mesmo que não ostentemos o título de filósofo, mesmo que não tenhamos frequentado as respeitáveis e sisudas aulas das Academias. E somos também, todos nós, sábios: e o somos quando nos apegamos à vida; quando louvamos a (nossa própria) juventude; quando, generosamente(?), deixamos a sabedoria de fato para os velhos, como se então acreditássemos que a nós ainda resta muito, enquanto que a eles...o que lhes resta, senão se dizerem sábios? senão atraírem a complacência melancólica para sorrisos já murchos? senão seu único passatempo: perguntar-se, enfim, a essa altura, o que lhes resta?
Sempre que nos interrogamos, filosofamos. Sempre que duvidamos, filosofamos. Sempre que nos perguntamos o que (nos) resta, filosofamos.
Um filósofo – provavelmente chegando a essa conclusão quando sua juventude já era coisa do passado – disse, e eu repito aqui, sem ter a pretensão de parecer sábio, mesmo já não sendo jovem, que “Filosofar é aprender a morrer”.
A vida, sábia como ela só (quem sabe se por ser o que há de mais antigo neste mundo), ensina-nos até como devemos encarar seu próprio fim – fim este que coincide com o nosso –, ensinando-nos, ao mesmo tempo, esta outra lição: que contar como se apaga o fogo ajuda a controlar os incêndios, mas não destrói a possibilidade de, quando o dia frio chegar, novamente, uma outra fogueira se acender. Porque a vida, independentemente do direito pessoal de se crer em sua continuidade ou não para além-aqui, se refaz acolá...no jovem que se agarra aos seus poucos anos como se eles fossem um porto-seguro, não passando, eventualmente, apesar da aparência de madeira sólida, de tábuas-de-salvação se decompondo.
Finda a fogueira, ficam as brasas com calor, que vai diminuindo, até só cinzas restarem: isso é a saudade. E como dizia o escritor (Guimarães Rosa): “A saudade é a permanência do ausente”.
Portanto, enquanto houver (alguma) lembrança, a vida está garantida, mesmo que só no fundo do coração – que é, no entanto, apesar de toda a poesia que inspira, o que de mais frágil há em nós.
CHICO VIVAS