domingo, 22 de fevereiro de 2015

O PREÇO QUE SE PAGA






Juras de amor são...um “barato”! Mas, não se deixe(m) enganar por essa velha gíria, que consegue ser ainda mais velha do que eu.

 Como um produto qualquer que, encontrando um novo e vasto mercado a sua frente, ávido por consumi-las, não tendo, no entanto, o “poder” para pagar seu alto preço, com concessões, resolvem, estrategicamente, se rebaixar, transigindo com a própria qualidade, tirando, aqui e ali, itens diversos, com o argumento de que não são tão essenciais (ao menos, para esses consumidores que querem juras, mas não têm como encarar seu preço “real”), chegando mesmo ao ponto, condenável, de deixar de fora partes que são fundamentais em uma boa jura de amor, valendo-se, com esperteza sem ética, do ardente desejo desses neoconsumidores que talvez sequer precisem mesmo de juras assim, querendo-as apenas porque todos ao seu redor já as têm, até dos modelos mais recentes, mesmo que estes em (quase) nada se diferenciem dos antigos, resultando isso em alguma gaveta cheia de velhas juras de amor compradas (ou ganhas) ainda ontem e que, a essa altura do nosso consumismo desenfreado, se tornou um “lixo amoroso”, um estorvo que aguarda um meio descomplicado de descarte. 

Ah, mesmo que eu não me arrisque a jurar sobre isso, de juras de amor, ao contrário desse mundo de geringonças descartáveis, não se se desfaz assim tal facilmente! E isso porque, sejam as mais originais (nem sempre as que mais nos tocam), sejam aquelas velhas juras de amor (que são, apesar do nosso esnobismo de modernos, capazes de, verdadeiramente, nos emocionar), elas se acumulam nas gavetas da memória. 

Verdade é que de muitas delas nos esquecemos, até que, remexendo aqui e ali, ao darmos de cara com uma, olhando para aquilo com a estranheza de quem se vê diante de uma antiguidade cômica, desatamos a rir, nos perguntando como fomos, um dia, capazes de “usar” aquilo, quem sabe dizendo para nós mesmos que só as aceitamos porque seria indelicado recusá-las. E não é menos verdade, contudo, que cada jura de amor é uma nota promissória nas mãos de quem as recebem: algumas, como se houvesse uma profunda mudança monetária, perdem seu valor, valendo somente como relíquia de um outro tempo; outras, surpreendentemente, como “ações” às quais não demos tanta atenção, com o decorrer do tempo, adquirem um valor inestimável, mesmo que já não possamos mais trocá-las por “espécie”, valendo, nesse caso, por nos lembrar de como já “fomos amados”. 

Toda jura (como todo juro que se deve pagar) é um lançamento, às vezes, às cegas, no futuro. O melhor, porém, não é, esfregando-a na cara de alguém, exigir seu cumprimento, a qualquer custo, mas, a cada dia, lançar novas juras, reciprocamente, desde que se dê ao outro o tempo necessário para usufruir da jura; tempo para viver, no presente de cada instante, esse amor que jura, com sinceridade nascida no desejo de que seja assim, ser para sempre. 

E que assim seja! 

CHICO VIVAS

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