sábado, 16 de julho de 2011

“SOMOS UM” PODE SER UM ERRO SINGULAR








Trocar seis por meia dúzia parece ser coisa de tolo; ou melhor, de um ingênuo carregado de infantilidade, como, aliás, são justamente os ingênuos, sendo a ingenuidade, a qualquer idade, a insistência, mesmo que contra a própria vontade, da infância em se fazer presente, quando seu tempo já passou, ou, fazendo-se então valer a vontade própria, quando se apela para um comportamento ingênuo como artifício de subtração do tempo que correu desde que se era (que se foi) criança: de qualquer modo, o que se consegue, despertando-se risos em graus diversos, indo de uma doce (e quase piedosa) constatação até o escárnio declarado (e que pode se evidenciar por uma piedade exacerbada), é parecer um tolo.


De fato, sem ainda ter avançado na matemática, valendo-se tão-somente do primarismo (será inato?) da adição e da subtração, já sendo o ato de multiplicar e de dividir uma experiência demasiadamente sofisticada, seis – que requer mais que todos os dedos de uma mão para ser contado – soa(m) bem mais do que meia dúzia: e esta, mesmo significando (o que nem sempre já se sabe) doze, expressa-se com certo (ou estou errado?) unitarismo (uma dúzia!), além de que, aqui, sequer é uma dúzia inteira, ficando toda a coisa pela metade.


Curioso é que, quando se trata da nossa história pessoal, por mais (anos) que já tenhamos vivido, “uma vida (inteira)” sempre surge como o seis em relação à meia dúzia. E chegamos, como se imbuídos da mais formal das lógicas, quase a pontificarmos sobre o bem pensar, a dizer que não importa o quanto se viveu, e sim “como se viveu”, como todos esses anos foram vividos, pois, pergunta-se, já respondendo, de que adianta ter vivido tanto tempo, se não se aproveitou essa longevidade para se criar uma história (com muitas histórias dentro dela), importando mais uma história consistente, mesmo que, em resumo, não comporte tantos anos assim.


Quem, no entanto, estará disposto a trocar anos e mais anos, ainda que a rotina de hoje já permita lançá-los, numa projeção do futuro, na conta dos anos mais rotineiros de nossa vida, por uma história curta, porém de densidade indiscutível, daquelas histórias que, se aproveitadas como inspiração para um filme, daria uma sequência frenética de acontecimentos de tirar o fôlego, incluindo-se aí, quem sabe, beijos cinematográficos de tirarem o fôlego, já que, na real, não há como se interromper um beijo no ato para, em seguida, querer retomá-lo do mesmo ângulo, ar recuperado, sob o risco de, perdida aquela deixa, não se conseguir mais retomar o fio da meada, terminando tudo num arremedo do mais amador (e isso não é um elogio) dos “teatros’.


Vidas intensas, independentemente dos anos vividos, contam-se nos dedos (como quase tudo, desde que não seja em número muito elevado, pois se pode perder a conta), embora devam ser mais do que meia dúzia. Vidas longas, à parte a intensidade com que se passou por elas, não são raras. Vidas que associam tempo e ação, anos e história(s) não podem ser “contadas” aqui, por falta de tempo (porque talvez já o tenha perdido demais), ou por falta de fatos relevantes.


Viver a dois é (deve ser) melhor quando não se cai no conto do ingênuo, e se quer viver duas vidas como se fossem apenas uma, cedendo mais à poesia (e não das mais originais) que à experiência pessoal: isso, além de não ser prova de amor, é prenúncio de erro na mais rudimentar prova de matemática.


Que bom que vocês são dois: nessa matemática, saímos ganhando, mesmo que adoremos vê-los juntos, como se um fosse(m).

CHICO VIVAS


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