quinta-feira, 22 de julho de 2010

DEUS END








Quando um cinema fecha, Deus dá gargalhadas – e não qualquer (porque são muitos, especialmente os autoproclamados assim) deus do cinema, mas Aquele mesmo que, de tão-poderoso, perfeito em Sua própria definição, soa a personagem de ficção, a coisa de cinema mesmo. E se em seu lugar (e há certos Cinemas que mereciam que a “Ele” se associassem sempre letras maiúsculas) nasce uma nova velha igreja, justamente com o argumento, um dos mais velhos deste mundo (de meu Deus), de se louvá-Lo, aí é que as risadas dobram de tamanho, quase parecendo, aos mais descuidados, uma trovoada sem par.



E é assim porque Deus, tão ingênuo que criou o mundo, sendo a nossa criação o máximo de Sua ingenuidade, na crença de que nos contentaríamos, para sempre, em sermos somente Sua semelhança, imagina que tudo aquilo não passa de uma piada, de uma já repetida, espécie de clichê indispensável em filmes do gênero, como a inevitável casca de banana no meio do caminho que, desprezada um dia por ser óbvia demais, ressurgiu como um clássico eterno, quem sabe se coisa do diabo em dia inspirado, porque não passa pela cabeça divina que alguém queira trocar um cinema, que também tem lá seus “fiéis”, por uma assembleia de Deus.



Logo, no entanto, Ele acaba caindo (gerúndio impróprio para um deus) na real, percebendo o quando a comédia, levada ao seu extremo, perigosamente se aproxima do trágico. Chorar não fica bem à face de Deus: se Ele não nos der o (bom) exemplo, como suportaremos levar adiante o filme da nossa vida, com o peso de sermos, ao mesmo tempo, autores, encenadores, diretores, produtores, atores, contra-regras, bilheteiros e pipoqueiros?



Mas, transformar, num ato de vingança, que não deve agradar a Deus, os cinemas em novas igrejas não parece ser solução: logo teríamos, em vez de espectadores, com direito a ir e vir, crédulos acorrentados a ideia de que deles depende a sobrevivência do mundo (do cinema): e, pensando bem, coisa que fazemos melhor do que Deus, esse Cinema é coisa do passado, sendo que, muitas vezes, aquilo que o do presente nos oferece de melhor é o querer sair de casa, desse nosso mundinho que recriamos a todo instante, enchendo-o (como se isso fosse sinônimo de inspirada criação) de possibilidades que não nos tiram de casa, a ponto de alguns só conhecerem certas paisagens, com mar ao fundo, nos limites do home theater: e gente, quando lhes aparece pela frente, tomam-na como coadjuvantes que, sabe-se lá por que encanto demoníaco, escapou da ficção.



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