quarta-feira, 8 de junho de 2011

NAZOROPA









Paris é uma festa!, ao menos para aqueles que têm os olhos num ponto perdido no mapa, embora facilmente localizável em sua própria fantasia – fantasia do que seja uma festa (e até de uma festa à fantasia) ou do que seja (uma, porque há outras) Paris, do que seja uma festa aí, como se o seu céu não tivesse a mesma configuração de outros céus – porque só os de fantasia curta acreditam num único, havendo, como sabe todo fantasista, no mínimo, sete céus, e isso sem querer, aqui, passar em revista a antigas fotonovelas, algumas passadas lá, numa Paris que era sempre uma festa, com todo seu brilho feérico montado, cuidadosamente, em estúdio, sendo que um ou outro descuido que, como rabicho solto em quem se esforça para ocultar qualquer assunto pendente, deixava à mostra a pouca verossimilhança de uma cidade de fotografia só aumentava a semelhança com a verdadeira Paris.


Deixemos para lá o que se passa no céu, em qualquer um, reservando essas pesquisas para os que cuidam das configurações celestes, buscando nisso um conforto extraterreno ou fazendo isso para, dura como é esta vida, conseguir um extra, longe, a léguas, de, mesmo juntando-se vários extras, chegar-se até Paris, salvo por um acontecimento extraordinário, sequer previsto no mapa astral que copia das estrelas um destino ilegível a outros olhos. Em vez de olharmos para além, fiquemos mesmo aquém, na mesma Paris, só que sob seu céu, debaixo de toda essa fantasia, uma mistura de modelos em frangalhos, de brilhos que, engalfinhando-se pela primazia da luz, tornam-se opacos, e nem se dão conta disso.


Olhando desse ponto de vista, não há marcante diferença entre Paris e qualquer outro sob-o-céu, com os lixos costumeiros, os detritos necessários para alimentar nossa avidez por consumir, inclusive cidades de fantasia – o que não lhes tira nem a beleza todo-própria, nem as faz mais irreais do que uma cidade sem lixo, com uma gente que se alimenta apenas do essencial, não havendo, assim, detritos que alimentem outras gentes. Mas, como não suspirar ao dizer que sous le ciel de Paris...qualquer coisa, porque o que se quis mesmo dizer foi o que dita aí está, acentuando o acento francês, copiando formas labiais vistas em fotografias, numa espécie de curso visual de uma língua estrangeira, arfando, com esforço, sem sair do ritmo, tentando, a todo custo, lembrar a letra da canção, falando de Piaf com a mesma sem-cerimônia com que trata Paris, seu céu, o que se passa além-céu, de Paris ou de qualquer outra Fantasia, o que, passante, vai sob esse mesmo céu, não atentando para os lixos, vendo arte no que é somente detrito, confundindo uma arte urbana, propositadamente em frangalhos, como o traço negativo nessa festa, mas, pensando positivamente (o que pode revelar um consumidor voraz por pensamentos banais), logo acrescentando que isso é normal, até para Paris, com alguns, sem querer perder nada, mesmo o que foi feito propositadamente para ser perdido (e pode ser que esteja aí seu charme), fechando os olhos para a arte e, em consequência, escorregando no detrito, orgulhoso, então, de voltar a sua terra, trazendo consigo, sob seus pés, uma eterna lembrança do que vai sob o céu de Paris.


Você já foi à Bahia? Não?! dizem que é uma...festa.



CHICO VIVAS


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