terça-feira, 10 de julho de 2012

NEM GODOT FOI TÃO ESPERADO


"Esperar é reconhecer-se incompleto"

(João Guimarães Rosa)




De todas as esperas – e todas elas nos cobram boa dose de paciência, às vezes, uma quota bem elevada do nosso já exaurido, por natureza assim, patrimônio de paciência(s): e haja baralho para tanto –, a mais angustiante é, sem dúvida, a da espera: a espera da espera.

Em qualquer espera, seja esta uma espera qualquer, seja uma revestida de suma importância (quando nuas, todas são, se não iguais, tão semelhantes, que facilmente são tomadas uma pela outra), aguarda-se por alguma coisa - ou por alguém. Quando, no entanto, espera-se a espera, o que se está esperando não é ainda o que virá pôr um fim à nossa espera, tendo o resultado valido ou não a pena ter-se esperado (tanto!), mas se aguarda a chegada da própria espera, e só a partir daí, paciência gasta, tempo empenhado (com a aparência de perdido, porque, apesar da espera, ainda não se chegou ao ponto – final), é que se pode alimentar, agora sim, com mais paciência posta nisso, a esperança, já que não há garantia absoluta de que uma espera seja bem-sucedida, de que, enfim, chegou-se aonde se queria.

Alguém, a essa altura, convicto de que paciência, a sua própria, é bem demasiado valioso para se perder, senão com as esperas pessoais, deve estar se perguntando aonde, com tudo isso, eu quero, afinal, chegar, esperando (mais espera) obter uma resposta de pronto, de modo a que não seja levado a perder ainda mais seu tempo, numa espera desnecessária, ou que, desistindo de esperar, veja a paciência já gasta, apostando no sucesso dessa espera, como um investimento que naufragou, sem sequer uma, ao menos uma tábua que permita recuperar, além do fôlego, algo da preciosa paciência que, mesmo molhada, mesmo enrugada (menos pelo tempo de espera, mais pelo tempo em que, náufraga, ficou à mercê das águas), mesmo sem tanta força, ainda pode ser útil em outra espera, talvez mais importante, e esperas, nessa nossa vida, é o que não (nos) falta.

Espero – porque também eu espero, por mais que, pontificando com desenvoltura sobre as esperas, dê a impressão de que as tenho na mão, que não preciso esperar, o que soa a uma contradição – que quem me ouve ainda tenha paciência de sobra, embora não possa lhe cobrar o mesmo em relação ao seu tempo: porque o fato é que terá de esperar. Não que eu queira, manipulador, alongar uma espera, como se, solicitado a indicar um caminho, podendo mostrar o objeto dessa procura a alguns passos, escolha, com viradas à esquerda, com dobras à direita, sem esquecer o(s) siga em frente, apontar o trajeto mais demorado.

Aonde quero chegar é uma questão de espera. E não (já) dela em si, mas da espera por uma espera, o que, para muitos, os que apenas (só) esperam, significa, simplesmente, que não sei aonde quero chegar.

Quem sabe não estejam certos?!


CHICO VIVAS

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