A persistência da memória (Salvador Dali. 1931)
Recordo-me de detalhes desinteressantes; desnecessários mesmo para a “economia da memória”: supondo-a um recurso esgotável, torna-se necessário valer-se dela com razão, quase que cientificamente, para que não se a acesse sem preciso objetivo, empregando-a num mero jogo de lembrar-e-esquecer, só pelo gosto de exibi-la, numa espécie de brincadeira de salão que atravessa o tempo e ainda hoje chama a atenção, mesmo que tal salão, como uma referência arquitetônica hiperdimensionada, já não exista.
Alguém, lembrando-se de certas leituras, mesmo que não a localizem (na memória) com a exatidão indispensável para que se anexe a essa lembrança seus dados bibliográficos, talvez diga que, se (eu) me lembro de tais detalhes, ainda que a eles me refira (conscientemente) como sem-interesse, como não-necessários, a própria recordação revelaria o contrário, como se, a seus olhos-lidos, o então velado pela inconsciência nu se mostrasse, apesar de, aos meus olhos, por mais que os vista de nudez, continuarem detalhes, e que só á luz vieram por causa da minha falta de controle, do modo descomedido com que lido com a(s) minha(s) memória(s).
Evito replicar, até porque, nessa série de lembranças “sem razão”, rebateria seus argumentos com outras leituras, a estas, ainda por cima, juntando outras tantas, numa cadeia referencial que, aí sim, revelaria, em toda sua pobre grandiosidade, a amplitude de uma memória que, guardando (de) tudo, curiosamente, esquece-se do valor terapêutico do esquecimento providencial e do significado oculto dos lapsos de memória – espaço aberto para leituras diversas.
Meios mais modernos parecem vir em nosso socorro, dispondo-se, por uma vontade que lhes foi imposta em microcircuitos, a conter memórias várias, esvaziando a nossa para, supostamente, o que realmente importa: mas, até para isso é preciso que, periodicamente, não nos esqueçamos (o que significa ter “sempre” na memória) de fazer essa transferência (de dados). Sem confiança plena em lembrança(s) assim, pode-se então se recorrer a um “lembrete”: artifício para (nos) lembrar (de) lembrar(-nos) – mas, de quê mesmo? Ah! De transferir memórias para que, num eventual colapso, tomados de esquecimento(s), uma cópia esteja a salvo.
Mas, ocorrendo tal catástrofe mnemônica, haveremos de nos lembrar de que, prudentemente, antevendo a possibilidade do colapso, fizéramos uma cópia? E mais: lembrada ela, necessário é que se saiba (por outra lembrança) o que para nós significa.
Se nada mudar, daqui a tempo(s), estarei, novamente, me recordando disto tudo: prova insofismável de que me lembro até do desnecessário, não me esquecendo nem sequer do que, ao longo dos anos, perdeu o interesse.
Alguém, lembrando-se de certas leituras, mesmo que não a localizem (na memória) com a exatidão indispensável para que se anexe a essa lembrança seus dados bibliográficos, talvez diga que, se (eu) me lembro de tais detalhes, ainda que a eles me refira (conscientemente) como sem-interesse, como não-necessários, a própria recordação revelaria o contrário, como se, a seus olhos-lidos, o então velado pela inconsciência nu se mostrasse, apesar de, aos meus olhos, por mais que os vista de nudez, continuarem detalhes, e que só á luz vieram por causa da minha falta de controle, do modo descomedido com que lido com a(s) minha(s) memória(s).
Evito replicar, até porque, nessa série de lembranças “sem razão”, rebateria seus argumentos com outras leituras, a estas, ainda por cima, juntando outras tantas, numa cadeia referencial que, aí sim, revelaria, em toda sua pobre grandiosidade, a amplitude de uma memória que, guardando (de) tudo, curiosamente, esquece-se do valor terapêutico do esquecimento providencial e do significado oculto dos lapsos de memória – espaço aberto para leituras diversas.
Meios mais modernos parecem vir em nosso socorro, dispondo-se, por uma vontade que lhes foi imposta em microcircuitos, a conter memórias várias, esvaziando a nossa para, supostamente, o que realmente importa: mas, até para isso é preciso que, periodicamente, não nos esqueçamos (o que significa ter “sempre” na memória) de fazer essa transferência (de dados). Sem confiança plena em lembrança(s) assim, pode-se então se recorrer a um “lembrete”: artifício para (nos) lembrar (de) lembrar(-nos) – mas, de quê mesmo? Ah! De transferir memórias para que, num eventual colapso, tomados de esquecimento(s), uma cópia esteja a salvo.
Mas, ocorrendo tal catástrofe mnemônica, haveremos de nos lembrar de que, prudentemente, antevendo a possibilidade do colapso, fizéramos uma cópia? E mais: lembrada ela, necessário é que se saiba (por outra lembrança) o que para nós significa.
Se nada mudar, daqui a tempo(s), estarei, novamente, me recordando disto tudo: prova insofismável de que me lembro até do desnecessário, não me esquecendo nem sequer do que, ao longo dos anos, perdeu o interesse.
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