Não sendo eu, para o bem do mundo, que muito precisa disso, em meio aos males que lhe são próprios, tão “original”, diferente, em tudo, dos demais, creio que compartilho com outros, talvez muitos, a mesma fantasia – que mantém um inequívoco elo com a lógica(?) infantil: fechar os olhos e, ao abri-los novamente, tudo (nesse caso, o que ora nos desagrada), como que por encanto, tenha desaparecido. Se for algo mais sério, até admitimos trocar o simples piscar de olhos por uma (desde que não tão longa assim) noite de sono: dormir com o problema – que não é das melhores companhias, ainda que haja quem defenda a tese de que problema bem maior é não ter companhia alguma – e, com o mesmo “encanto” dos tempos de criança, acordar sem ele, com humor regenerado e com promessa e longa duração, daí por diante.
Se assim fosse, seria o fim dos insones; inclusive daqueles, claro, para os quais, noites em claro, o problema é justamente o não poder dormir, quando se quer. Dormiríamos todos, certos de que, daí a pouco, o despertar viria com boas-vindas para dias devidamente solucionados em suas questões (sempre) prementes. Mas, igualmente, se fosse assim, quanto da vida não perderíamos? Porque, durante esse sono restaurador, a via continua a passar, com os “bens” que lhe são próprios também.
Tenho a sensação (e estou bem acordado ao dizer isso) de ter “dormido no ponto”, ao ler o que você tem escrito: e, pelo que pude entender, são apenas amostras grátis, em pílulas, de um elixir oceânico.
Tuas palavras (me) são, gramaticalmente, corretas – e insisto nessa “tecla”, apesar de, provavelmente, algumas delas lhe faltarem, no teu ato de escrever. São, sentimentalmente, sinceras – e ainda que muitos forcem o dedo justamente nessa tecla, acabam, pela pressão demasiadamente exercida, por expor o contrário: um artifício desnecessário para parecerem verdadeiros. São, estilisticamente, interessantes – e lembro, aqui, as palavras de Buffon: “O estilo é o homem”.
Gostaria de ter testemunhado a transição do menino (que, é provável, também, um dia, acreditou que bastaria fechar os olhos para ver, ao abri-los, o mundo diferente) para o homem que, sem perder o elo com uma infância que lhe deve ser cara, ainda fecha os olhos, mas para ver(-se) melhor; ainda dorme, mas para estar bem acordado no outro dia.
Dos males, enfim, o menor – sempre. Ao menos, posso testemunhar o bem que a vida te fez; te faz. O bem que nos faz o que a vida te tem feito, mesmo que, em alguns momentos, desejes que isso ou aquilo, como por encanto, desapareça.
Forte abraço.
CHICO VIVAS
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