Quem procura, o que acha em meio a um monte de lenha, verdadeiras “achas”, uma sobre as outras, sem que isso seja, necessariamente, uma segunda pessoa, e menos ainda que, pressupondo, por imperativo que é, que à segunda anteceda uma justa primeira, que sejam pessoas umas sobre as outras: e se fosse, o que acharia(s)?
Não é certo, fora das nossas fantasias de pesquisadores mais envoltos num misticismo meritório do que numa ciência que admite as meras coincidências, que basta o ato de procurar para que se ache, porque, se é fácil achar achas de lenha, especialmente quando o fogo se faz necessário, fazendo até gravetos mirrados se passarem por elas (numa evidente transmutação, à revelia deles, de gênero), tal facilidade não se expande para um palheiro, grande que não seja, se se procura ali uma agulha, mesmo que sem a necessidade urgente de tê-la à mão, mas, diante da pesquisa infrutífera, picado (como se por agulhas) em sua teimosia, fazendo disso um cavalo de batalha – por dá cá aquela palha.
Há mares e mares: e que dizer dos amares? Os mais “puros” advogam (e, para outros, só essa companhia de advogados já lhes tira algo de sua pureza) que só há-mar, um único amar; e que os outros são formas que achamos(!) de nomear sutis variações de cor que ainda não foram catalogadas, embora muitos já as tenham experimentado.
Seja como for, mar é grande; mesmo que o amor ao mar não seja dos maiores. Se é menor que um oceano, porque precisa ser contido por este, Pacífico ou numa forçada contenção, mar é maior que rio – de qualquer mês. Na nossa imaginação, marzinho (como um puro “amorzinho”) vale por muitos grandes rios, incluindo aí sonoras gargalhadas.
Portanto, se se procurar mar, achar-se-á. Não sendo sequer preciso que nele se navegue, com a imprecisão que lhe outorgou o piloto-em-Pessoa.
Mas, e se não, valendo então o reverso de todo aquele achismo, não se buscando o mar?
O mar é tão grande que, mesmo assim, ele nos vem. Vem-nos em torrentes de palavras – no caso de quem (preciso dizer “como eu”?) não sabe nadar, nada sabendo de amar (ah, mar!) – ou nos chega na evocação, apesar da aparente contradição, de sua ausência sentida, ou daqueles sentimentos, nem sempre dos mais sutis, que, achamos, só um mar poderá compreender.
CHICO VIVAS
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